Diabetes: O Inimigo Silencioso que Danifica o Corpo Anos Antes do Diagnóstico

Muito antes de qualquer sintoma aparecer, o diabetes já está em ação, danificando silenciosamente órgãos vitais como coração, rins e vasos sanguíneos.

DOENÇAS

MEDY

11/14/20255 min read

Essa condição metabólica crônica é uma das maiores ameaças à saúde pública no Brasil, atingindo 1 em cada 13 pessoas no país, o que representa mais de 16 milhões de afetados e coloca o Brasil como o 6º país no ranking mundial da doença. Embora frequentemente vista apenas como uma doença do "açúcar", suas consequências são graves e sistêmicas, começando a corroer o corpo por dentro anos antes do diagnóstico.

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Como o Diabetes "Corrói" o Corpo por Dentro

O perigo do diabetes reside na forma como o excesso de glicose (açúcar) no sangue age no organismo ao longo do tempo. Quando os níveis de glicose permanecem cronicamente elevados, eles danificam a estrutura interna do corpo de maneira progressiva.

• A glicose alta se comporta como um "agente tóxico", causando um estado de inflamação contínua e provocando "microfissuras" nas paredes internas das artérias. Esse ambiente inflamado facilita o acúmulo de placas de gordura, um processo conhecido como aterosclerose, que obstrui o fluxo sanguíneo e, como consequência, pode dobrar ou até quadruplicar o risco de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC).

• O mesmo mecanismo que prejudica as artérias do coração afeta a microcirculação em todo o corpo, comprometendo outros órgãos vitais:

Rins: O dano aos pequenos vasos renais pode levar à insuficiência renal, exigindo diálise ou transplante.

Olhos: A circulação da retina é afetada, aumentando o risco de retinopatia diabética, uma das principais causas de perda de visão.

Nervos Periféricos: A lesão nos nervos, especialmente nos pés e pernas, diminui a sensibilidade, favorecendo o surgimento de feridas que não cicatrizam e podem levar a amputações.

O Retrato da Doença no Brasil: Por que os Casos Não Param de Crescer?

O principal motor por trás do avanço do diabetes tipo 2 no Brasil é a profunda mudança no estilo de vida. O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e refeições rápidas, combinado com sedentarismo, noites mal dormidas e o consequente ganho de peso, criou o cenário perfeito para a expansão da doença. Preocupantemente, essa tendência está atingindo faixas etárias cada vez mais jovens, com um número crescente de adolescentes já apresentando quadros de pré-diabetes. A gordura abdominal é um fator central nesse processo.

“Cerca de 80% dos casos de diabetes tipo 2 estão ligados ao acúmulo de gordura abdominal. É essa gordura na região central do corpo que atrapalha o funcionamento da insulina.” - Cláudia Cozer Kalil, endocrinologista.

Tipo 1 vs. Tipo 2: Entendendo a Diferença com uma Analogia Simples

Embora as complicações possam ser semelhantes, as duas formas mais comuns de diabetes têm origens distintas. O endocrinologista Augusto Santomauro Junior explica a diferença usando uma analogia simples:

Tipo 1: “‘A insulina é a chave que coloca a glicose dentro das células. No tipo 1, essa chave simplesmente desaparece --o corpo para de produzir insulina.’”

Tipo 2: “‘No tipo 2, a chave até existe, mas a fechadura emperra: o corpo não responde à insulina como deveria.’”

É o tipo 2, mais diretamente influenciado pelo estilo de vida e pela obesidade, que domina as estatísticas de complicações, internações e mortes por diabetes no país.

A Revolução no Tratamento: Uma Nova Esperança para os Pacientes

A última década marcou uma virada no tratamento do diabetes tipo 2 com o desenvolvimento de novas classes de medicamentos, como os análogos de GLP-1 e os inibidores de SGLT-2. Embora tenham ficado conhecidos popularmente como "canetas emagrecedoras", seus benefícios vão muito além da perda de peso, atuando de forma ampla no metabolismo para proteger o coração e os rins. A endocrinologista Lyz Helena Lopes reforça a comprovação científica:

“Essas medicações diminuem de forma consistente infarto, AVC e morte cardíaca. Isso já está muito bem demonstrado em estudos de desfechos maiores.”

Médicos já observam o impacto positivo na prática clínica. Segundo Ricardo Katayose, os pacientes chegam para exames de rotina com o controle metabólico muito melhorado. Para o endocrinologista Clayton Luiz Dornelles Macedo, a inovação é a mais importante desde a descoberta da insulina.

“Não são remédios ‘para emagrecer’, são terapias metabólicas completas, com impacto em coração, rins e longevidade.”

A ciência agora busca entender a proteção a longo prazo. “A pergunta é: essas drogas conseguem tirar o paciente da curva de declínio típico da diabetes? Esse é o próximo passo da ciência”, pondera Katayose.

O Paradoxo Brasileiro: Com Tanta Ciência, Por que a Doença Ainda Mata Tanto?

Apesar dos avanços científicos expressivos, o diabetes continua sendo uma das principais causas de morte e complicações graves no Brasil. As razões para esse paradoxo são menos científicas e mais estruturais, sociais e comportamentais.

Diagnóstico tardio, que permite que a doença cause danos por anos antes do tratamento;

Acesso desigual a medicamentos modernos, devido ao alto custo e à cobertura limitada no SUS;

Dificuldade de consulta com especialistas para um acompanhamento adequado;

Baixa adesão a mudanças de estilo de vida, que são fundamentais para o controle da doença;

Inércia terapêutica, que é a demora em ajustar a medicação quando o tratamento atual não é mais eficaz.

Essa desigualdade é gritante: os análogos de GLP-1 e inibidores de SGLT-2, celebrados por seus benefícios protetores, têm custo elevado e não integram a cobertura ampla do SUS, deixando a maioria dos pacientes sem acesso à terapia mais moderna. As barreiras para o controle eficaz são múltiplas.

“A diabetes é extremamente prevalente e muito associada à obesidade, que também não para de crescer. O tratamento é crônico, exige mudanças sustentadas de alimentação, exercício, rotina e monitorização. Isso gera sobrecarga e impacto na qualidade de vida, e muitas pessoas acabam relaxando ou ignorando parte do tratamento.”

O grande desafio, portanto, é traduzir o conhecimento científico em prática clínica acessível a todos.

“A ciência já sabe o que fazer. O desafio é garantir acesso, educação em saúde e acompanhamento adequado para que isso chegue à vida real do paciente.”

Ação e Prevenção: Como Reduzir o Risco e Quando Procurar Ajuda

A boa notícia é que grande parte do risco de desenvolver diabetes tipo 2 pode ser reduzido com mudanças no estilo de vida. Além disso, reconhecer os sinais de alerta é crucial para buscar ajuda médica o mais rápido possível.

• Segundo os endocrinologistas, as seguintes medidas têm um impacto significativo na redução do risco:

1. Perder de 5% a 10% do peso corporal.

2. Praticar caminhadas de 30 a 40 minutos regularmente.

3. Reduzir o consumo de açúcares simples e ultraprocessados.

• Se você apresentar algum dos sintomas abaixo, procure um médico para uma investigação imediata:

◦ Muita sede;

◦ Urinar diversas vezes;

◦ Cansaço excessivo;

◦ Infecções repetidas;

◦ Perda de peso involuntário

Conhecimento é a Melhor Ferramenta

O diabetes é uma doença séria e silenciosa, mas não precisa ser uma sentença. A combinação de um estilo de vida saudável, diagnóstico precoce e acesso aos tratamentos modernos oferece um caminho seguro para controlar a condição e evitar suas complicações mais devastadoras. A conscientização sobre os riscos e a adoção de cuidados contínuos com a saúde são as ferramentas mais poderosas para combater esse inimigo invisível.